30 de setembro de 2010

Um triste e delicado olhar de amar



Que de olhos tristes e cheios de antigo e dedicado sublime amor
Só para aqueles desamparados-meninos fracos de imponência e arrogância
Que o mundo sempre lhes dê esse único e delicado cheiro de flor
E que sempre aqueça suas tolas almas de va-ga-ro-sa e inatingível fragrância.

Marcos Silva

26 de setembro de 2010

Se Puder Sem Medo



Oswaldo Montenegro

Deixa em cima desta mesa a foto que eu gostava
Pr'eu pensar que o teu sorriso envelheceu comigo
Deixa eu ter a tua mão mais uma vez na minha
Pra que eu fotografe assim meu verdadeiro abrigo
Deixa a luz do quarto acesa a porta entreaberta
O lençol amarrotado mesmo que vazio
Deixa a toalha na mesa e a comida pronta
Só na minha voz não mexa eu mesmo silencio
Deixa o coração falar o que eu calei um dia
Deixa a casa sem barulho achando que ainda é cedo
Deixa o nosso amor morrer sem graça e sem poesia
Deixa tudo como está e se puder, sem medo
Deixa tudo que lembrar eu finjo que esqueço
Deixa e quando não voltar eu finjo que não importa
Deixa eu ver se me recordo uma frase de efeito
Pra dizer te vendo ir fechando atrás da porta
Deixa o que não for urgente que eu ainda preciso
Deixa o meu olhar doente pousado na mesa
Deixa ali teu endereço qualquer coisa aviso
Deixa o que fingiu levar mas deixou de surpresa
Deixa eu chorar como nunca fui capaz contigo
Deixa eu enfrentar a insônia como gente grande
Deixa ao menos uma vez eu fingir que consigo
Se o adeus demora a dor no coração se expande
Deixa o disco na vitrola pr'eu pensar que é festa
Deixa a gaveta trancada pr'eu não ver tua ausência
Deixa a minha insanidade é tudo que me resta
Deixa eu por à prova toda minha resistência
Deixa eu confessar meu medo do claro e do escuro
Deixa eu contar que era farsa minha voz tranqüila
Deixa pendurada a calça de brim desbotado
Que como esse nosso amor ao menor vento oscila
Deixa eu sonhar que você não tem nenhuma pressa
Deixa um último recado na casa vizinha
Deixa de sofisma e vamos ao que interessa
Deixa a dor que eu lhe causei agora é toda minha
Deixa tudo que eu não disse mas você sabia
Deixa o que você calou e eu tanto precisava
Deixa o que era inexistente e eu pensei que havia
Deixa tudo o que eu pedia mas pensei que dava.

25 de setembro de 2010

Nosso doce e ultrajante amor


Esse nosso amor de outrora e sem pressa
Que se nutre todos os dias de fútil sentimento
Pra dizer só a nós mesmos: lógico a quem, a sós, lhe interessa
Que a intensidade só é para quem do sabor entende: quebradiço fomento.



Marcos Silva

24 de setembro de 2010

Rosa de Hiroshima - E a gente achou que seria o pior que o ser humano seria capaz!



Vinícius de Moraes / Gerson Conrad

Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas, oh, não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada.

11 de setembro de 2010

De “ignorante” beleza



Noiva e de todas a mais linda, e que de Dom divino nem inveja em si trazia
Não provocava sequer nenhum horror
Pois por não se saber Divina modestamente se sentiu apenas feliz e vivia
Com o pouco que Deus tinha pra lhe oferecer e não sentia dos outros nenhum rancor

Vive ainda de sua infinita beleza, mas Ele sabe que ela nunca disso se fez:
Poderosa ou soberba e nem triste inconformada grande atriz
Soube-se como alegre criança escolher seu tempo e sua diretriz
Para estar nesse mundo triste com que de-li-ca-da e sublime altivez.

Pra minha querida mãe Dona Lucia


Marcos Silva

A gente que não repara



A vida nos vai excluindo dela aos pouquinhos
Mas sem a menor ou solidária delicadeza e sem direito a nenhum confronto
Vai nos mostrando que a vez é dos outros e que esta na hora e devagarzinho
Esta chegando nossa triste vez de dizer: Tá eu deveria estar pronto!

Marcos Silva

10 de setembro de 2010

Poeminha do Contra


Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão...
Eu passarinho!

Mário Quintana

7 de setembro de 2010

Rei de Oyo



Que justiça é essa que da cor depende
Como tudo que é “concreto” se cair trás dor
Não enobrece nem evolui a serpente
Que a todos nós só pode trazer esse incompreensível calor

Seu nome a todos traz respeito ou pavor
Até de quem nem sabe o que fala
Mas na tua presença te pede o mais simples louvor
Pensa que sabe, e quando vê trouxe sua própria trava.

Esse amigo de vidas passadas
Que teima em nos atormentar com sua voz serena
Cavalga e com que garbo e com que passadas
Que só um rei pode tê-las e sempre tão plenas

Xangô teu nome nos faz pensar
Que a vida e ética e só para alguns
Pois não temes a nada e podes até se matar
Em nome da justiça ou de qualquer egum

De trevas e sol vive essa entidade
Que pode nos parecer inatingível
Mas quando o tens no coração, qual divindade
Percebe-se sua grata e delicada alma visível.

Kawó-Kabiesilé Xângo


Marcos Silva

Doce sentimento



Do filme Irmão sol irmã lua

Se todos nós pudéssemos só com o coração ouvir e apenas senti-lo
Talvez em único, breve e doce instante como o de Clara e de Francisco
A vida de igual e de humano sentimento nos trouxesse tão perto daquilo
Que Ele só para os de bom coração fala e sempre de um jeito tão esquisito.


Marcos Silva

6 de setembro de 2010

Apenas um olhar distante


Triste criança de olhar distante
Que teima ainda em existir
Implora calado, sofrido talvez um só instante
Para que Ele possa a todos nós nos redimir

Pede no seu coração pequeno
Que a vida não o abandone, implora!
Para que nós, firmes terrenos
Façamos o mais longe possível a sua última hora

Triste criança de olhar distante
Que olha para um mundo só seu
Por que dessa vida ainda restante
Roga apenas por um gesto de carinho Seu

Ainda não caminha de tão fraco, seu destino
Mesmo que os anos lhe digam o contrário
Mas resiste, suporta como um Deus-menino
E com seu coração sem mágoas segue seu solitário e único calvário

Talvez morra pela terrível seca que assola esse Nordeste moreno
E como um Querubim povoará esses grandes sertões
Olhando de muito perto todas as crianças com seu olhar sereno
Preenchendo com esperança os seus pequeninos corações.


Marcos Silva

5 de setembro de 2010

Arrogante e nem por isso menor idiossincrasia


Se me sei: não fútil e nem menor
Por que me perco em vulgar necessidade
De me mostrar melhor e sem nenhuma cor
E sempre me importar com essa triste e frágil maioridade.

Marcos Silva

4 de setembro de 2010

O que da lembrança não se perdeu


O que falamos num breve espaço possível de contemplo
Pode ficar para sempre em tristes e promíscuas memórias
Por não deixar que o valente e “incorrompível” tempo
Faça seu maior e dignificante trabalho: o de apagar frágeis retóricas.



Marcos Silva