21 de janeiro de 2012

Apenas poetas...



Biromes y servilletas
Leo Maslíah

Guardanapos de Papel
Tradução ou versão

Voz - Milton Nascimento


Na minha cidade tem poetas, poetas
Que chegam sem tambores nem trombetas, trombetas
E sempre aparecem quando menos aguardados, guardados, guardados
Entre livros e sapatos, em baús empoeirados

Saem de recônditos lugares, nos ares, nos ares
Onde vivem com seus pares, seus pares, seus pares
E convivem com fantasmas multicores de cores, de cores
Que te pintam as olheiras e te pedem que não chores

Suas ilusões são repartidas, partidas, partidas
Entre mortos e feridas, feridas, feridas
Mas resistem com palavras confundidas, fundidas, fundidas
Ao seu triste passo lento pelas ruas e avenidas

Não desejam glorias nem medalhas, medalhas, medalhas,
Se contentam com migalhas, migalhas, migalhas
De canções e brincadeiras com seus versos dispersos, dispersos
Obcecados pela busca de tesouros submersos

Fazem quatrocentos mil projetos, projetos, projetos
Que jamais são alcançados, cansados, cansados
Nada disso importa enquanto eles escrevem, escrevem, escrevem
O que sabem que não sabem e o que dizem que não devem

Andam pelas ruas os poetas, poetas, poetas
Como se fossem cometas, cometas, cometas
Num estranho céu de estrelas idiotas e outras e outras
Cujo brilho sem barulho veste suas caudas tortas

Na minha cidade têm canetas, canetas, canetas
Esvaindo-se em milhares, milhares, milhares
De palavras retorcendo-se confusas, confusas, confusas
Em delgados guardanapos feito moscas inconclusas

Andam pelas ruas escrevendo e vendo e vendo
Que eles vêem nos vão dizendo, dizendo
E sendo eles poetas de verdade enquanto espiam e piram e piram
Não se cansam de falar do que eles juram que não viram

Olham para o céu esses poetas, poetas, poetas
Como se fossem lunetas, lunetas, lunáticas
Lançadas ao espaço e o mundo inteiro, inteiro, inteiro
Fossem vendo pra depois voltar pro Rio de Janeiro.

Um comentário:

  1. Deus como um texto e música assim não tocam a ninguém..., por isso concluo que Você às vezes faz coisas simples só para quem possa, sagradamente, entendê-las...

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