16 de julho de 2010
Hoje
Hoje eu acordei sem amor
Após uma luta sangrenta: sem dor
Dois amores sem vidraças que se quebraram
Me senti vário na inútil condição de apenas nada ser
Hoje eu acordei triste
Duma mortal procura de me encontrar em outro
Sem saber o que dizer se é que ouvirias minha frágil retórica
Falei sozinho para o mundo que passava pela minha alma cansada de só ter esperanças
Hoje acordei ontem
E na rua passou o mesmo carro de luz duvidosa
Sem direção, nem combustível, mas que insiste em andar
Talvez à procura do sol que se pôs outrora sem brilho
Hoje eu acordei mudo
Falando de mim e tu nem sabias se eu sequer pensante existia
Escutei do outro lado da rua que nem sabes amar
Emudeci e entrei estreito pela porta fechada da solidão
Hoje eu acordei sempre
E não subi na janela para ver se havia chuva
Não olhei ao redor, nem liguei a televisão quebrada
Não pus o sapato que me esperava ansioso e tomei sem sabor o mesmo velho livro
Mas hoje eu acordei
E você não mora mais naquele sonho
Nem, sonho, nem durmo, mas acordo
E finjo que a vida continua e pego o primeiro ônibus que passa em frente à casa que nunca sonhamos.
Marcos Silva
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